quinta-feira, 8 de março de 2018

Você tem medo de perder uma pessoa amada?



Em 17 de agosto de 2012, minha esposa sofreu um acidente de bicicleta quase fatal. Nos primeiros dias, não sabíamos se ela sobreviveria, e, nas semanas subsequentes, não sabíamos quais seriam suas futuras capacidades mentais. Felizmente, o Senhor a restaurou quase completamente ao que ela era antes do acidente.

Esse acidente personalizou para mim um medo real que todos nós experimentamos, a saber, o medo de perder nosso cônjuge ou nossos filhos para a morte. Como viveremos sem eles? Os pais cristãos, em particular, temem que seus filhos nunca cheguem à fé. Eles mal podem suportar a ideia de seus filhos sofrerem no inferno para sempre.

Que antídotos temos contra o medo da perda? Gostaria de sugerir três:

Mergulhe no amor de Deus

Devemos começar por lembrar do evangelho. Nós merecemos a ira de Deus, porque adoramos a nós mesmos em vez de nosso criador e nos recusamos a dar-lhe graças e glória (Rm 1.18-25). Somos “por natureza, filhos da ira” e, em Adão, entregamo-nos aos desejos da carne, aos prazeres deste mundo e a Satanás, como o príncipe da potestade do ar (Ef 2.1-3). Mas como fomos amados! Nosso Deus é rico em misericórdia e derramou seu amor em nós, vivificando-nos quando estávamos mortos em nossos delitos e pecados (2.4-5). Ele não enviou seu filho para nos condenar, mas para nos salvar (Jo 3.16-18). Tampouco essa é uma palavra abstrata ou impessoal: “[Ele] me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).

Se Deus nos ama tanto, se ele nos perdoou de nossos pecados e rebelião, se ele nos purificou de toda injustiça (1Jo 1.9), então não temos nada a temer. Como o Apóstolo Paulo explica, não há nenhuma perda neste mundo que se compare à alegria de ganhar Cristo (Fp 3.7-9). Todo sofrimento e dor que enfrentamos podem ser suportados porque sabemos que Deus nos ama com um amor inextinguível em todas as circunstâncias.

Esteja enraizado na soberania de Deus

Não é apenas o caso de Deus nos amar. Ele também reina e governa sobre todas as coisas. O Senhor declara o fim desde o princípio, e seus propósitos e conselhos permanecerão de pé (Is 46.9-10). Nada pode entrar em nossas vidas à parte de sua vontade soberana, pois ele governa até sobre onde as sortes são lançadas (Pv 16.33). Isso significa que, em última análise, não há acasos. Nenhum governante ou autoridade pode nos prejudicar, porque o Senhor inclina o coração dos reis do jeito que quer (21.1). “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada “(Sl 115.3). Ele “frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos”(33.10).

Jesus ensina que nem mesmo um pardal cai em terra à parte da vontade de Deus (Mt 10.29). Se ele cuida de pardais, então também cuida dos cabelos da nossa cabeça (v. 30). Eu recebi grande conforto com esses versículos, porque se pardais não caem em terra à parte de Deus, então isso também não acontece com ciclistas. Minha esposa estava nas mãos de Deus quando sua cabeça bateu na calçada. Não estou dizendo que enfrentar a situação foi fácil, e eu desejaria, a partir de uma perspectiva humana, que isso nunca tivesse acontecido. Mas eu tive esse grande conforto por saber que minha esposa estava nas mãos amorosas e fortes de Deus. Ele a ama muito mais do que eu a amo ou amarei.

Confie nas promessas de Deus

Devemos confiar nas promessas de Deus, mas devemos atentar para quais são essas promessas. Deus não promete que tudo vai sair do jeito que gostaríamos na vida. Mesmo que Deus não nos prometa uma vida confortável, suas promessas são incrivelmente confortadoras. Reconhecemos que as tristezas e preocupações da vida pode nos atingir como um furacão. Em um momento estamos calmos e em paz e, de repente, os ventos da preocupação estão soprando. Quando Satanás ataca, devemos nos lembrar das promessas de Deus. Romanos 8.32 diz: “Aquele que não poupou seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” Deus fez a coisa mais difícil que se possa imaginar. Ele entregou seu Filho quando éramos seus inimigos, para que possamos passar da morte para a vida. Podemos ter certeza, então, que Deus nos dará tudo o que precisamos,

Quando tememos a perda, somos como Davi, que temia que as trevas iriam encobri-lo (Sl 139.11). As trevas podem vir, mas Deus acende a luz nas trevas, pois “até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa” (v. 12). O Senhor é a nossa luz nas trevas. Como o Salmo 27.1 diz: “O SENHOR é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?” Não temos nada a temer, pois a morte não é a realidade final. Nós servimos a um Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos. Temos garantida uma eternidade de amanhãs felizes. “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5).


Thomas R. Schreiner serve como pastor de pregação na Clifton Baptist Church em Louisville, Kentucky. Ele é também professor de Novo Testamento no Southern Baptist Theological Seminary e escreveu Romans (Baker, 1998) e Paul, Apostle of God’s Glory in Christ: A Pauline Theology (InterVarsity, 2001), entre muitos outros títulos.


quarta-feira, 7 de março de 2018

POR QUE O POVO DE DEUS PERDE A ESPERANÇA?


Durante os anos em que tenho me envolvido no ministério de aconselhamento, encontrei muitas pessoas que perderam a esperança por terem adotado um diagnóstico psicológico sem fundamento bíblico quanto a seus problemas pessoais. Em algumas ocasiões, isto ocorre porque alguém lhes apresentou o diagnóstico. Em outras, tais pessoas leram algum livro, assistiram um programa de televisão, ouviram uma conversa no rádio ou fizeram algum curso de psicologia, decidindo por si mesmas que realmente estavam sofrendo de algum tipo especial de problema psicológico. Deixaram de reconhecer que o diagnóstico é apenas uma identificação descritiva, determinado por dedução, que algumas pessoas resolveram utilizar como um rótulo para certos tipos de comportamentos e experiências humanas. E, embora a palavra ou a expressão descritiva escolhida pareça lógica e significativa para identificar um conjunto de comportamentos humanos estranhos, realmente não descreve a causa ou a natureza do problema.

Talvez eu possa esclarecer o que estou procurando afirmar, se falar sobre como na medicina as doenças são diagnosticadas e como normalmente se procede no diagnóstico dos problemas psicológicos. Na medicina, se um paciente tem certo conjunto de sintomas, os médicos suspeitam que está com determinada enfermidade. Porém, antes de apresentarem um diagnóstico definitivo, eles prescrevem uma série de exames (sangue, raios X, etc.), reconhecendo que, se a pessoa realmente tem aquela doença, a sua causa e natureza serão reveladas por meio dos exames. Com base em evidências científicas, os médicos dizem se aquela pessoa tem ou não determinada doença. O diagnóstico deles não está fundamentado apenas nos sintomas, mas em provas comprováveis ou evidências tanto das causas quanto da natureza da enfermidade.

Contrário ao que muitas pessoas imaginam, este não é o procedimento comumente adotado no âmbito da psicologia secular. Na psicologia, se alguém possui certos sentimentos, comportamentos, maneira de pensar, determinado número de sintomas por um período específico de tempo, supõe-se que tal pessoa está com um problema psicológico, ainda que sua causa não foi e, em muitos casos, não pode ser comprovada por métodos científicos. Sem evidências provenientes de fatos concretos a respeito da causa e da natureza do problema, deduz-se que certos sintomas indicam que ela tem um problema psicológico. Em muitos casos, esse tipo de diagnóstico, não comprovado e improvável, é oferecido e frequentemente aceito como incontestável e indiscutível.

Infelizmente, quando uma pessoa acredita que seu problema, quanto à sua causa e natureza, é psicológico e não espiritual, podemos esperar várias coisas: 1) em sua tentativa para superar o problema, esta pessoa deixa de lado Cristo e a Bíblia, buscando a solução primariamente (às vezes, exclusivamente) em remédios, idéias e conceitos da psicologia secular; 2) começa a pensar sobre Cristo como um psicólogo cósmico, cujo principal objetivo em ter vindo ao mundo era solucionar os problemas psicológicos, aumentar a auto-estima do ser humano, libertá-la de sua de- pendência de ajuda e satisfazer as necessidades de seu ego; 3) esta pessoa perde a esperança e cai no desespero, porque muitos dos rótulos psicológicos trazem consigo a idéia de eu sou assim mesmo, não posso ser mudado ; 4) torna-se desencorajada porque estes conceitos não fundamentados na Escritura de maneira real e franca, incentivam-na a pensar que a solução básica para suas dificuldades é humanística em sua natureza. Esta pessoa precisará solucionar seu problema por si mesma (a idéia de que ela pode e tem de mudar a si mesma) ou outros, preferencialmente os especialistas, o resolverão por ela. Muitas pessoas já tentaram e falharam por confiarem em seus próprios esforços ou na ajuda de outros. Sabem que elas mesmas ou qualquer outra pessoa não podem oferecer poder para libertá-las de sua velha maneira de pensar, sentir e comportar-se e capacitá-las a pensar, sentir e viver de maneira diferente. Nesse contexto em que os problemas são vistos primariamente como psicológicos em sua natureza, encontrei inúmeras pessoas que perderam a esperança e aumentaram suas dúvidas de que as mudanças realmente podem acontecer.

Por outro lado, tenho visto a esperança florescer em pessoas que começaram a reconhecer que seus problemas eram principalmente espirituais em natureza e estavam relacionados ao pecado. O reconhecimento de que nossos problemas pessoais e interpessoais estão relacionados ao pecado é realmente boas-novas, pois, se isto é verdade, há toda esperança para nós. Por quê? Porque, de acordo com a Bíblia, o propósito fundamental de Cristo ter vindo ao mundo é libertar-nos da penalidade e do poder do pecado que nos domina (e, eventualmente, da presença e possibilidade do pecado). Esta é a mensagem mais cristalina da Bíblia: Jesus é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1.29); Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal (1 Tm 1.15); E lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles (Mt 1.21); o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniqüidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tt 2.14).

As boas-novas, de acordo com a Bíblia, não dizem que Cristo veio ao mundo para ser um psicólogo cósmico que traria cura às nossas enfermidades psicológicas. As boas-novas da Bíblia afirmam que Cristo Jesus veio ao mundo a fim de providenciar libertação da penalidade e do poder do pecado (Rm 6.1-23). As ““boas-novas”” incluem a idéia de que há esperança para sermos libertos do castigo de nossos pecados. Existe substancial libertação do dominante poder do pecado e seus efeitos, no presente, por- que foi isto que Cristo veio fazer no mundo.

Esta perspectiva bíblica acerca da natureza dos maiores e mais fundamentais problemas do homem está repleta de esperança para aqueles que estão lutando com padrões anti-bíblicos de pensar, desejar, sentir e comportar- se. Essa perspectiva é libertadora, gratuita, encorajadora, bíblica e verdadeira! Ela diz às pessoas que, embora seus problemas pessoais e interpessoais sejam graves e intensos, existe esperança de mudanças, porque Cristo Jesus veio ao mundo a fim de oferecer libertação da culpa, condenação, corrupção, penalidade e controlador poder do pecado em suas vidas. Essa perspectiva ensina às pessoas que em Cristo Jesus elas podem desfrutar de todos os recursos necessários para escaparem da corrupção que se manifesta no mundo por meio de desejos pecaminosos. Cristo também capacita os crentes a viverem de maneira realmente pie- dosa e frutífera, caracterizando-se por excelência moral, conhecimento, moderação, perseverança, amor fraternal, bondade e amor cristão (2 Pe 1.3-8).

Esta mensagem bíblica está repleta de esperança, pois afirma que Cristo possui inesgotáveis recursos disponíveis para nós, a fim de que vençamos as corruptas influências de nossos maus desejos. Encontramos disponível em Cristo tudo que precisamos para escapar da condenação e das destrutivas influências do pecado em nossas vidas e para vivermos em piedade. Achamos em Cristo tudo que necessitamos para superar as controladoras influências do pecado, que nos impedem de experimentar aquele tipo de vida frutífera descrita em 2 Pedro 1.3-8. Aqueles que aceitam o diagnóstico de Deus acerca da verdadeira natureza de seus problemas encontrarão tudo em Cristo todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, para livrarem-se da corrupção das paixões que há no mundo, tornando-se participantes da natureza divina. Talvez eles necessitem de ajuda para saber como aproveitarem-se destes recursos, mas podem ter esperança porque tudo que necessitam se encontra em Cristo!