QUEM É VOCÊ?
Você já se
observou? É talvez uma das atitudes mais difíceis, pois existem aqueles que não
se aceitam por fora e outros que não se aceitam por dentro. Mas esse olhar
crítico é importante porque aceitar a si é conviver bem com suas qualidades e
imperfeições e tudo isso está intimamente ligado à nossa infância. A educação
infantil é fundamental para a estruturação da personalidade e fortalecimento do
caráter, que não se confundem, segundo a Teoria da Personalidade. Enquanto este
é inerente ao nascimento do ser, aquela é fruto das experiências adquiridas ao
longo da existência, daí a importância da formação adequada da criança,
principalmente no lar, cabendo aos pais a responsabilidade de passar segurança,
confiança, alto-estima, propiciando-lhe um ambiente harmonioso, permitindo ao
educando a absorção positiva desses ensinamentos, que o auxiliarão por toda a
vida. Pais inseguros, desajustados, egoístas, tendem a ter filhos com complexo
de inferioridade acentuado, o que afeta a sua vida futura, pois se sentem impotente
para enfrentar os desafios.
Quantas pessoas
não gostariam de batalhar por uma promoção? Outras que se sentem
"menos" do que colegas de trabalho, amigos, levando-as ao isolamento,
por se sentirem impotentes. Isto ocorre porque faltou a elas a estrutura
básica, que deveria ter sido adquirida na infância, através de atitudes,
exemplos e reações seguras e adequadas por parte dos pais.
É comum
ouvirmos frases como "filho deveria vir com Manual de Instruções",
como a dizer que não existe um roteiro seguro, infalível a seguir no
processo de formação e educação infantil. O casal toma a decisão de ter filhos
e é aqui o primeiro passo(o mais importante) para entregar à vida filhos
saudáveis, do ponto de vista mental. O planejamento familiar é fundamental,
pois um filho afeta a vida do casal em vários sentidos: econômico, intimidade,
responsabilidade, dedicação etc. Existem casais que se preocupam exageradamente
com a saúde física, se esquecendo do lado emocional da criança.
Uma pessoa
fisicamente saudável, que apresenta desequilíbrio emocional mais acentuado,
enfrentará grandes barreiras no amor, no trabalho, no convívio social como um
todo. Entretanto, uma pessoa com alguma deficiência física poderá obter
sucesso, se apresentar as suas emoções e sentimentos equilibrados. Tudo é uma
questão de mente sã.
O médico
psiquiatra Alfred Adler foi quem denominou esse transtorno emocional como
"complexo de inferioridade, sentimento esse capaz de tornar impotente o
ser para solucionar os problemas, fazendo-o sentir-se fracassado - é a
baixa-estima- que afeta milhares de pessoas, que se retraem em vários momentos
da vida.
E vem a
pergunta: o que fazer? A resposta não é simples, pois não existem fórmulas
milagrosas para se aplicar na educação. Acreditamos que aos pais cabem o dever
de amar, dar o bom exemplo, dentro e fora de casa, respeitar o seu lar e a
todos que estão ao seu redor. Não delegar a educação é outro ponto fundamental,
pois há pais que passam a função indelegável à empregada, à escola, à TV e se
surpreendem quando o adolescente não aceita mais a autoridade dos pais. Nós
colhemos aquilo que plantamos, essa é uma das leis mais poderosas e verdadeiras
do Universo.
Retornando à
pergunta inicial: Quem é você? Essa indagação fez-me lembrar de Sócrates, que
como o Cristo, também foi um divisor da história (da Filosofia Antiga). Com ele
novas concepções sobre a verdade e o conhecimento surgiram, contrariamente os
seus colegas, que buscavam o porquê das coisas. Não fosse a dedicação de
Platão, seu discípulo mais próximo, não teriamos tomado conhecimento de suas
ideias, porque ele não se preocupou em escrever, assim como o Cristo. E a
inscrição existente no portal de entrada do Templo de Delfos serviu para
inspirá-lo a edificar a sua filosofia:"Conhece-te a ti mesmo". Essa é
a chave da felicidade, do sucesso e da paz interior que buscamos há muito
tempo. Conhecer-se é um trabalho de introspecção, em que o indivíduo busca as
suas qualidades e atributos negativos, elaborando, a partir daí, metas para o
autoaperfeiçoamento. Sócrates dizia que deveriamos pensarmos menos nas coisas e
nos ocuparmos mais com a nossa pessoa. E é verdade, pois na correria do dia a
dia, na busca desenfreada em ter, esquecemos de ser. Estamos perdendo, aos
poucos, a nossa identidade individual, para adotar uma coletiva, que se
preocupa mais em ter, fruto da contaminação implacável da mídia. Estamos nos
transformando em seres conduzidos; já não pensamos tanto. Pagamos para que outros
pensem por nós, para que falem por nós. Por isso essa multidão, essa massa
desorientada, sem norte, que aceita pacificamente padrões de beleza, de saúde,
de relacionamento.
O resultado
disso? Ainda é prematuro levantar uma tese a respeito.
Mas se você
tem filhos ou pretende tê-los, pense nisso. O diálogo é a ponte entre a
ignorância e a educação e podemos começar já.