A DITADURA DO "QUASE"
Tenho preferência em comprar pão numa padaria que está em fase de expansão. O gerente, além de irmão em Cristo, é meu amigo. Ontem, ao cumprir o ritual de todos os dias, perguntei-lhe na saída: "Quando a obra vai ficar pronta?". Ao que me respondeu: "Está quase lá". Brincando, falei: "Mas já faz quase um ano!" É óbvio que nem sempre as coisas acontecem rápido, principalmente neste país em que a burocracia ainda predomina nos serviços públicos. Mas o "quase" ficou a martelar em minha cabeça.
Sei o significado do vocábulo. Ele quer dizer que algo está prestes a ser terminado ou que já estamos perto, quase a chegar, que falta pouco para alcançar o objetivo. Só que hoje pelo uso comum tornou-se um termo impreciso, uma válvula de escape, uma forma de dizer sem dizer, uma maneira de empurrar com a barriga, quando não se tem uma resposta precisa para se dar. Tornou-se muito parecido com o gerúndio sob o qual nos abrigamos, quando... não cumprimos o cronograma ou não somos pontuais: "estou fazendo", "estou chegando" etc., etc.
O "quase" acabou cumprindo o mesmo papel. Ele já não quer dizer que falta pouco, que já estamos quase lá, que o serviço está prestes a ser concluído, mas tornou-se a forma pela qual nos livramos, momentaneamente, de prestar contas de nossas obrigações, de adiar para depois uma resposta que não temos ou mesmo de justificar a nossa irresponsabilidade no cumprimento de nossas tarefas. "Estou quase terminando", diz alguém que sequer começou a fazer. "Estou quase no fim", afirma outro que ainda está na primeira linha da introdução. "Estou quase chegando", diz um que sequer saiu de casa. É, literalmente, a ditadura do "quase".
O "quase" não é solução. É provisoriedade. Quem vive sob a sua sombra não chega, não faz, não empreende, não completa o percurso, enfim, não alcança nenhum objetivo."Quase comprei a roupa", mas não comprou. "Quase viajei", mas não viajou. "Quase passei de ano", mas não passou. "Quase fui promovido", mas não foi. Reconheço que na medida certa o "quase" tem o seu lugar e pode indicar uma circunstância até necessária ou justificável, mas não deve tornar-se o nosso "mimo" para justificar a nossa inércia, a nossa indisposição para agir.
Com isso em mente, sugiro que façamos um acordo: vamos dar um tempo ao "quase".
Geremias Couto
Tenho preferência em comprar pão numa padaria que está em fase de expansão. O gerente, além de irmão em Cristo, é meu amigo. Ontem, ao cumprir o ritual de todos os dias, perguntei-lhe na saída: "Quando a obra vai ficar pronta?". Ao que me respondeu: "Está quase lá". Brincando, falei: "Mas já faz quase um ano!" É óbvio que nem sempre as coisas acontecem rápido, principalmente neste país em que a burocracia ainda predomina nos serviços públicos. Mas o "quase" ficou a martelar em minha cabeça.
Sei o significado do vocábulo. Ele quer dizer que algo está prestes a ser terminado ou que já estamos perto, quase a chegar, que falta pouco para alcançar o objetivo. Só que hoje pelo uso comum tornou-se um termo impreciso, uma válvula de escape, uma forma de dizer sem dizer, uma maneira de empurrar com a barriga, quando não se tem uma resposta precisa para se dar. Tornou-se muito parecido com o gerúndio sob o qual nos abrigamos, quando... não cumprimos o cronograma ou não somos pontuais: "estou fazendo", "estou chegando" etc., etc.
O "quase" acabou cumprindo o mesmo papel. Ele já não quer dizer que falta pouco, que já estamos quase lá, que o serviço está prestes a ser concluído, mas tornou-se a forma pela qual nos livramos, momentaneamente, de prestar contas de nossas obrigações, de adiar para depois uma resposta que não temos ou mesmo de justificar a nossa irresponsabilidade no cumprimento de nossas tarefas. "Estou quase terminando", diz alguém que sequer começou a fazer. "Estou quase no fim", afirma outro que ainda está na primeira linha da introdução. "Estou quase chegando", diz um que sequer saiu de casa. É, literalmente, a ditadura do "quase".
O "quase" não é solução. É provisoriedade. Quem vive sob a sua sombra não chega, não faz, não empreende, não completa o percurso, enfim, não alcança nenhum objetivo."Quase comprei a roupa", mas não comprou. "Quase viajei", mas não viajou. "Quase passei de ano", mas não passou. "Quase fui promovido", mas não foi. Reconheço que na medida certa o "quase" tem o seu lugar e pode indicar uma circunstância até necessária ou justificável, mas não deve tornar-se o nosso "mimo" para justificar a nossa inércia, a nossa indisposição para agir.
Com isso em mente, sugiro que façamos um acordo: vamos dar um tempo ao "quase".
Geremias Couto
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