É LEGITIMO ALGUÉM SE
AUTO PROCLAMAR MINISTRO E SAIR IMPONDO AS MAOS SOBRE QUALQUER PESSOA E DENOMINANDO-AS COMO MINISTROS?
Para se entender resumidamente
este assunto é oportuno observar, como ponto elucidativo, o que a Bíblia
informa a respeito da unção divina, fator que envolve, fundamentalmente, a ação
do Espírito Santo sobre os salvos (não confundir com a generalização de evangélicos)
que, de modo geral, recebem de Deus a “unção do Santo” (1Jo 2.18-27), os
capacitando a porem em prática o plano da salvação, conhecerem a diferença e
polarização entre os dois reinos, de natureza e poderes opostos, conforme Jesus
denunciou em Lucas 11.18 e 20, e serem ensinados a se comportarem diante da
realidade pecaminosa do mundo, constatada nas Escrituras, sustentados com
poder, conforme está escrito: “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder
de serem feitos filhos de Deus” (Jo 1.12a). Não obstante alguns crentes serem
leigos, carentes de maior conhecimento teológico, o Espírito Santo sabiamente
ilumina o entendimento de todos, indistintamente, sobre o que significa “a
diferença entre o justo e o ímpio; entre o que agrada e não agrada a Deus” (Ml
3.18), além de estimulá-los ao culto, testemunho, evangelismo e serviço,
edificados como “casa espiritual, sacerdócio santo, para oferecerdes
sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pe 2.5), e isso
seria impossível não fora essa maravilhosa ação divina na vida de cada crente.
O que diferencia o referido fator coletivo da unção quando alguém é escolhido
para determinado propósito nos desígnios divino? Considerando que o próprio
Senhor Jesus Cristo, a Seu respeito, assim se expressou: “O Espírito do Senhor
é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou- -me a curar
os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos
cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”
(Lc 4.18,19). Concluímos que os escolhidos por Deus recebem unção especifica do
Espírito Santo que habilita o cristão, individualmente, para realizar uma
atividade fim, a exemplo do que aconteceu com os juízes, sacerdotes, profetas e
reis citados no Antigo Testamento. No contexto bíblico a unção de Deus
significa outorga de autoridade e poder, com respectiva qualificação, aos
quantos o Senhor destaca para uma determinada atividade, ocupando cargos na sua
obra, nunca desvinculados de uma igreja, fato que pode ser comparado nas
biografias dos que são citados, tanto nos ofícios do Velho Testamento, quanto
nos ministérios e diversidade de funções do Novo Testamento, sem
necessariamente significar que alguém, por si mesmo, assuma uma consagração ou
que um grupo de pessoas, sem o devido foro eclesiástico, possa consagrar,
aleatoriamente, quem quer que seja, com prerrogativas indevidas na obra do
Senhor, o que pode ser considerado leviandade ou falsidade. O fato de Jesus
determinar “ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc
16.15) não deve ser confundido com “eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para
que vades e deis frutos” (Jo 15.16). A grande comissão envolve todos os salvos
na disseminação do Evangelho, diferindo da chamada especial divina, cujas
consagrações ocorrem, sucessivamente, desde o estabelecimento da igreja em
Jerusalém, a exemplo da separação de Paulo e Barnabé em Antioquia. Unção divina
na consagração de alguém para o ministério não é objeto de domínio ou concessão
particular para ser oferecida ou distribuída ao público, ela emana do próprio
Deus que através do Espírito Santo explicita sua respectiva finalidade para o
escolhido, como aconteceu com Jesus quando foi apresentado no templo e Simeão
profetizou: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua
palavra, pois já os meus olhos viram a tua salvação, a qual tu preparaste
perante a face de todos os povos, luz para alumiar as nações e para glória de
Israel” (Lc 2.29-32). Trinta anos depois, numa peculiar solenidade pública,
durante o Seu batismo no rio Jordão, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma
corpórea como uma pomba, e ouviu-se a voz de Deus que dizia: “Tu és meu Filho
amado; em ti me tenho comprazido”, dando a entender as Escrituras que esse
episódio marcou o momento de sua unção. Após a ressurreição Jesus se apresentou
aos onze apóstolos, “assoprou sobre eles e disse- -lhes: Recebei o Espírito
Santo” (Jo 20.22), os credenciando para, em seu nome, exercerem liderança na
igreja, com autoridade para efetuarem e legitimarem as futuras consagrações,
sempre realizadas em solenidade pública, com a imposição de mãos efetuada por
umministro divinamente credenciado. A imposição de mãos é um ensinamento
incluído nos “rudimentos da doutrina de Cristo” (Hb 6.1, 2). Foi exercitada
pelos apóstolos no rito das consagrações de obreiros, desde a separação dos
primeiros diáconos, prática continuada pelos demais líderes espirituais na
proporção do crescimento da igreja primitiva, conferindo autoridade aos separados,
os habilitando para os cargos e funções eclesiásticas (At 6.3-6; 13.1-3; 1Tm
4.14). Ressalvada a proporção, da mesma forma que o Espírito de Deus estava
ativo no ministério de Jesus, assim ocorre com todos quantos Deus escolhe para
Sua obra, significando a responsabilidade a ser considerada nas indicações e
respectivas consagrações de obreiros numa igreja, conduta que não deve ser
banalizada com argumentos humanos, aberrações, heresias ou exageradas
revelações, dos que, no intuito de persuadir pessoas ou grupos, pratiquem
consagrações sem a autenticidade bíblica, atuando com aparente terrorismo
teológico, no sentido contrário do que escreveu o apóstolo Paulo: “A ninguém
imponhas precipitadamente as mãos, nem partícipes dos pecados alheiros;
conserva-te a ti mesmo puro” (1Tm 5.22). Tais procedimentos são alheios a
lisura eclesiástica, confundido quem não conhece a legitimidade da Igreja de
Cristo. Assim como o Espírito Santo ungiu Jesus para realizar o ministério que
lhe foi proposto (Is 66.1-3), Ele mesmo concede, pela unção, a todos os que são
escolhidos por Deus, autoridade e poder para atuarem na sua santa seara, na
qual não comporta intromissão de quem se auto- -proclame consagrado, pois o
mesmo Espírito que reprova tal atitude esclarece à igreja, através do dom de
discernimento, quando alguém, indevidamente credenciado, intenta se promover e
atuar naquilo para o que não foi chamado.
Kemuel Sotero Pinheiro é pastor,
líder da AD do Aribiri - Vila Velha (ES) e 1° vice-presidente do Conselho
Administrativo da CPAD.
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