UM ANTÍDOTO CONTRA A INVEJA
Em resposta a seus seguidores que se ressentiam da
crescente proeminência de Jesus, João expôs este princípio-chave para servir ao
Senhor: “O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” (Jo
3.27). O argumento de João era que os homens devem contentar-se com o lugar e a
provisão que o Deus soberano lhes confere, procurando apenas ser fiéis ao
chamado particular de cada um.
Aqui está o antídoto para a inveja e a discórdia
entre os cristãos, pois a declaração de João nos lembra que tudo o que temos é
dádiva do céu. Se temos grandes dons e uma grande vocação, eles foram dados por
Deus para seu serviço. Se temos dons modestos e uma vocação modesta, eles
também foram dados por Deus para seu serviço. Saber disso deve afastar-nos dos
desafios do ciúme, por um lado, e da vanglória, de outro. Paulo pergunta: “E
que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias,
como se o não tiveras recebido?” (1Co 4.7). Então, se temos dons, eles vieram
de Deus. Se somos bem-sucedidos, é por causa da graça de Deus. Se fomos
diligentes, até mesmo isso é um dom celestial. Por essa razão, não devemos
glorificar aqueles que vemos como cristãos bem-sucedidos, mas, em vez disso,
dar toda a glória a Deus. Por outro lado, se Deus nos concedeu um sucesso
menor, não devemos ter inveja daqueles que têm mais. Tudo o que temos vem de
Deus e é para sua glória.
Essa compreensão nos ajuda a distinguir entre a
ambição piedosa e a ambição ímpia. Sim, os cristãos devem ser ambiciosos, mas
pelas coisas certas. Nós devemos ter disposição e zelo pelo reino de Deus.
Devemos aspirar a cultivar e guardar como cristãos: prover aqueles que estão
sob nossos cuidados, fazer o bem no mundo, proteger e sustentar os fracos e,
especialmente, levar as pessoas à fé em Cristo e discipliná-las para a
maturidade cristã.
Quaisquer que sejam os dons que você tenha, deve
ser ambicioso sobre o que Deus pode fazer com eles e através deles. É claro que
isso está muito longe da ambição egoísta que tantas vezes é muito mais natural
para nós. Tendemos a estar mais preocupados com nossa reputação e bem-estar. É
daí que vêm nossos conflitos e inveja: queremos ser glorificados e admirados —
caso contrário, por que nos preocuparíamos com o fato de os outros terem mais
destaque do que nós? Queremos desfrutar ou adquirir posição elevada, riquezas e
luxos mundanos — caso contrário, por que, então, ficamos ansiosos quando essas
coisas são ameaçadas? O princípio de João é fundamental tanto para nossa utilidade
a Deus como para nosso bem-estar espiritual. Se pudermos substituir a ambição
egoísta pela ambição centrada em Deus, estaremos livres da inveja e do
conflito.
O talentoso pregador F. B. Meyer
lutou contra a inveja. Deus o chamou para servir em Londres ao mesmo tempo que
Charles Haddon Spurgeon, possivelmente o maior pregador que já viveu. Assim,
apesar de sua habilidade e de seu trabalho duro, Meyer ficava do lado de fora
de sua igreja e observava as carruagens passarem direto para o Tabernáculo
Metropolitano, de Spurgeon. Mais tarde em sua vida, isso aconteceu novamente,
quando G. Campbell Morgan eclipsou o sucesso de Meyer. Quando eles pregavam na
mesma conferência, multidões escutavam Morgan, depois saíam quando Meyer estava
pregando. Reconhecendo seu espírito amargo, Meyer se comprometeu a orar por
Morgan, raciocinando que o Espírito Santo não permitiria que ele invejasse um
homem por quem orava. E ele estava certo. Deus permitiu que Meyer se alegrasse
com a pregação de Morgan. As pessoas o ouviam dizer: “Você já
ouviu Campbell Morgan pregando? Você ouviu a mensagem desta manhã? Deus está
sobre esse homem!”.[1]
E, em resposta às orações de Meyer, a igreja de Morgan ficou tão cheia que as
pessoas vieram e encheram a sua igreja também.
É uma glória para João Batista que ele,
aparentemente, não tivesse tais lutas no tocante a Jesus. Ele sabia que não era
o Salvador: “Vós mesmos sois testemunhas de que vos disse: eu não sou o Cristo,
mas fui enviado como seu precursor” (Jo 3.28). João entendeu seu lugar e papel;
o tempo todo, ele estava preparando e depois direcionando as pessoas para que
seguissem Jesus, o verdadeiro Cordeiro de Deus e Salvador. Assim, ele se
alegrou quando elas fizeram isso. Não o incomodava nem um pouco o fato de sua
estrela estar se apagando com a luz ascendente de Cristo. João sabia que Deus é
soberano. Para cada um de nós, Deus distribui obras e os dons para realizá-las.
O que importa é que cumpramos fielmente nosso chamado particular para a glória
de Deus, buscando sua aprovação, e não o louvor dos homens.
Essa é uma das razões pelas quais entender o
mandato da Bíblia para os homens é tão importante. João disse que apenas queria
cumprir o que o Senhor havia ordenado a ele. O que o Senhor ordenou que você
faça? Qual é o seu chamado? Para começar, você pode estar certo de que tem o
chamado de Gênesis 2.15: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no
jardim do Éden para o cultivar e o guardar”. Desde as raízes da humanidade e as
primeiras páginas da Escritura, a essência do nosso chamado é clara. Devemos
cultivar e guardar em qualquer canto do reino no qual Deus nos tenha colocado.
Entender e abraçar esse aspecto essencial de nosso chamado é a chave para viver
produtivamente como um servo-discípulo de Cristo.
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