SEUS PENSAMENTOS PODEM ESTAR TE BOICOTANDO: APRENDA A IDENTIFICAR
PADRÕES
Muitos padrões de pensamento podem nos levar a sofrer mais e
resolver menos os problemas
Malu Echeverria
A forma como encaramos os problemas pode nos levar a
produzir hormônios que afetam o pensamento. De modo geral esses padrões causam auto
boicote
É muito comum a pessoa se vitimizar ou se culpar perante as
situações, o que a impede de resolver situações específicas por ficar remoendo
o assunto
Acreditar-se insuficiente, não conseguir receber elogios e
querer ajudar a todos para ter atenção são outros padrões limitantes
"Você é o que você pensa". Quem nunca ouviu essa
frase motivacional de algum amigo, terapeuta ou até mesmo em um meme da
internet? Levando isso em conta, se você parasse um pouco para analisar os
próprios pensamentos, seria uma pessoa negativa ou positiva? Se a resposta foi
a primeira alternativa, está na hora de rever os seus (pré)conceitos, pelo bem
da sua saúde física e mental.
O psicobiólogo Ricardo Monezi, professor de fisiologia do
comportamento da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e
coordenador do projeto Cuidar Integrativo da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo), explica por quê. "Toda vez que você encara um
obstáculo como um problema, o cérebro libera hormônios que deixam o organismo
em estado de estresse, preparando-o para fugir ou lutar. A tensão nos impede de
pensar com clareza", diz. Ou seja, talvez você leve mais tempo para
encontrar uma solução.
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É normal sair da terapia se sentindo pior do que chegou?
Ninguém consegue agir com otimismo o tempo inteiro, claro.
Se você acabou de ser demitido, tem razão em ficar mais nervoso na próxima
entrevista de emprego. Mas quando os pensamentos ruins se tornam um padrão --o
que os psicólogos chamam de distorções cognitivas -- podem impedir tanto o seu
crescimento pessoal quanto o profissional. O motivo é simples. "São um
mecanismo de defesa que usamos para evitar situações em que não fomos
bem-sucedidos, para nos mantermos na nossa zona de conforto", diz a
psicóloga e coach Cíntia Suplicy, da Associação Brasileira de Psicologia Positiva.
E quais seriam esses padrões de pensamentos que têm o poder
de nos boicotar? São aqueles que a psicóloga norte-americana Carol Dweck,
autora do best-seller Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso (Editora Objetiva),
denomina como fixos, ou seja, que nos fazem acreditar que nossa inteligência e
competência são limitadas e, dessa forma, nos impedem de evoluir. A seguir,
conheça cinco deles e veja como quebrar esse ciclo.
1. "Só acontecem coisas ruins comigo"
Você não tem o controle de tudo, é verdade. Pode ser assaltado
ou perder um ente querido de uma hora para outra. "Mas algumas pessoas
adotam a mentalidade de vítimas: tendem a ver o mundo como injusto e a crer que
as coisas ruins só acontecem com elas", afirma a psicóloga Selma Bordim,
da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Essa posição é bastante confortável, de acordo com a
especialista, porque a vítima não tem de se responsabilizar pelas coisas e
ainda pode ganhar atenção --até o momento que, logicamente, as pessoas vão
começar a se afastar dela.
Para evitar o vitimismo é preciso tornar-se consciente e
responsabilizar-se pela maneira de pensar sobre si e sobre o mundo. O ideal é
fazer isso situação a situação, até transformar o padrão em outro mais maduro,
reconhecendo o que cabe a você (e, portanto, é passível de mudança) e o que não
cabe.
2. "Eu vou fracassar, mais uma vez"
A crença da incapacidade pode surgir em decorrência de
experiências ruins em relação aos próprios erros, de acordo com Bordim. "A
pessoa que se considera inútil tem o benefício de não ter de se empenhar para
crescer", diz a especialista. Com isso, a pessoa não se organiza e desiste
com facilidade. Ao final, confirma que é incapaz mesmo e fortalece o padrão. O
principal desafio aqui, portanto, é abrir a possibilidade para o sucesso.
Para o psicobiólogo Monezi, caso você perceba que tem
pensado dessa forma com frequência, respire fundo. Literalmente. "E se
mesmo após oxigenar o cérebro, ainda tiver dificuldade para enxergar as coisas
como de fato, são, pergunte a opinião de pessoas próximas. Com essa visão
externa da realidade, talvez seja mais fácil tomar consciência",
recomenda. E não custa lembrar: errar é humano.
3. "Foi culpa minha"
Quem tem o hábito de se achar culpado de tudo, até mesmo dos
defeitos dos filhos, por exemplo, também faz papel de vítima. "Mas, nesse
caso, de si mesmo", alerta Suplicy. Culpa, no entanto, não é o mesmo que
responsabilidade, segundo a especialista. Ao assumir o papel de mártir, você
tira de si a obrigatoriedade de solucionar o problema. Só que esse padrão pode
trazer consequências emocionais graves por conta do peso que o indivíduo
carrega.
Para se livrar desse padrão de pensamento, Suplicy conta que
é preciso ressignificar os fatos, em vez de simplesmente remoê-los sem parar.
Isto é, analisá-los sob diferentes ângulos, negativos e positivos. Se depois
disso, se descobrir que a culpa foi realmente sua, tudo bem. "Agora, você
tem novos conhecimentos sobre o assunto e terá mais chances de resolvê-los,
caso passe por isso de novo", afirma.
4. "Não sei receber elogios"
É uma dificuldade comum em quem não se considera merecedor
de tudo o que conquistou e, como não se vê daquela forma, pode até acreditar
que o comentário tem um fundo de ironia. Ou, pior ainda, apontar seus defeitos
em contrapartida. Como alguém que, ao ser elogiado pela comida, diz que poderia
estar mais ou menos salgado.
Além disso, em nossa cultura, segundo o psicobiólogo Monezi,
concordar com um elogio pode ser visto como arrogância. "Mas, pelo
contrário, está agindo com humildade, sim, afinal, está aceitando a opinião
alheia". Ficou sem graça e não sabe o que responder? Apenas agradeça, que
já é um bom começo. Mais adiante, vale a pena refletir sobre os elogios, já que
todo feedback é importante para se tornar uma pessoa melhor, seja para você ou
para os que o cercam.
5. "Pode contar comigo"
Ela está sempre disposta a ajudar, custe o que custar. E o
que há de mal em ser altruísta? Nada, desde que você não aja dessa forma para
ganhar a atenção dos outros ou, depois, pedir algo em troca. "Em geral, a
pessoa com esse perfil tem necessidade de reconhecimento. Ela sequer sabe que
está se sabotando. Porém, ao se colocar em segundo lugar, põe em risco os
próprios desejos", diz Suplicy. Uma solução para descobrir se não está
exagerando, segundo a especialista, é observar se as pessoas que você ajuda não
estão incomodadas por não conseguirem corresponder à altura.
Identificou-se? E agora?
Identificou-se com algum (ou vários) deles? Todos podemos
apresentar esses padrões de pensamento, em maior ou menor grau. Para fugir
deles, já que eles podem causar desconforto, muitas pessoas usam distrações
como comida, redes sociais, compras e assim por diante.
Por isso, técnicas de meditação que ajudam a focar no
presente, como o mindfulness, acalmam e são eficientes para lidar com as
próprias emoções, de acordo com a bióloga Elisa Kozasa, pesquisadora do
Instituto do Cérebro, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert
Einstein. "E quando elas prejudicam atividades importantes do nosso dia a
dia, como o trabalho ou os relacionamentos, além da alimentação e do sono, por
exemplo, é sinal de que você precisa de ajuda profissional", diz a
especialista. Fique atento.
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