sábado, 11 de maio de 2019
SEUS PENSAMENTOS PODEM ESTAR TE BOICOTANDO: APRENDA A IDENTIFICAR PADRÕES


Muitos padrões de pensamento podem nos levar a sofrer mais e resolver menos os problemas
Malu Echeverria
A forma como encaramos os problemas pode nos levar a produzir hormônios que afetam o pensamento. De modo geral esses padrões causam auto boicote
É muito comum a pessoa se vitimizar ou se culpar perante as situações, o que a impede de resolver situações específicas por ficar remoendo o assunto
Acreditar-se insuficiente, não conseguir receber elogios e querer ajudar a todos para ter atenção são outros padrões limitantes
"Você é o que você pensa". Quem nunca ouviu essa frase motivacional de algum amigo, terapeuta ou até mesmo em um meme da internet? Levando isso em conta, se você parasse um pouco para analisar os próprios pensamentos, seria uma pessoa negativa ou positiva? Se a resposta foi a primeira alternativa, está na hora de rever os seus (pré)conceitos, pelo bem da sua saúde física e mental.
O psicobiólogo Ricardo Monezi, professor de fisiologia do comportamento da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e coordenador do projeto Cuidar Integrativo da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), explica por quê. "Toda vez que você encara um obstáculo como um problema, o cérebro libera hormônios que deixam o organismo em estado de estresse, preparando-o para fugir ou lutar. A tensão nos impede de pensar com clareza", diz. Ou seja, talvez você leve mais tempo para encontrar uma solução.
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Ninguém consegue agir com otimismo o tempo inteiro, claro. Se você acabou de ser demitido, tem razão em ficar mais nervoso na próxima entrevista de emprego. Mas quando os pensamentos ruins se tornam um padrão --o que os psicólogos chamam de distorções cognitivas -- podem impedir tanto o seu crescimento pessoal quanto o profissional. O motivo é simples. "São um mecanismo de defesa que usamos para evitar situações em que não fomos bem-sucedidos, para nos mantermos na nossa zona de conforto", diz a psicóloga e coach Cíntia Suplicy, da Associação Brasileira de Psicologia Positiva.
E quais seriam esses padrões de pensamentos que têm o poder de nos boicotar? São aqueles que a psicóloga norte-americana Carol Dweck, autora do best-seller Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso (Editora Objetiva), denomina como fixos, ou seja, que nos fazem acreditar que nossa inteligência e competência são limitadas e, dessa forma, nos impedem de evoluir. A seguir, conheça cinco deles e veja como quebrar esse ciclo.
1. "Só acontecem coisas ruins comigo"
Você não tem o controle de tudo, é verdade. Pode ser assaltado ou perder um ente querido de uma hora para outra. "Mas algumas pessoas adotam a mentalidade de vítimas: tendem a ver o mundo como injusto e a crer que as coisas ruins só acontecem com elas", afirma a psicóloga Selma Bordim, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.
Essa posição é bastante confortável, de acordo com a especialista, porque a vítima não tem de se responsabilizar pelas coisas e ainda pode ganhar atenção --até o momento que, logicamente, as pessoas vão começar a se afastar dela.
Para evitar o vitimismo é preciso tornar-se consciente e responsabilizar-se pela maneira de pensar sobre si e sobre o mundo. O ideal é fazer isso situação a situação, até transformar o padrão em outro mais maduro, reconhecendo o que cabe a você (e, portanto, é passível de mudança) e o que não cabe.
2. "Eu vou fracassar, mais uma vez"
A crença da incapacidade pode surgir em decorrência de experiências ruins em relação aos próprios erros, de acordo com Bordim. "A pessoa que se considera inútil tem o benefício de não ter de se empenhar para crescer", diz a especialista. Com isso, a pessoa não se organiza e desiste com facilidade. Ao final, confirma que é incapaz mesmo e fortalece o padrão. O principal desafio aqui, portanto, é abrir a possibilidade para o sucesso.
Para o psicobiólogo Monezi, caso você perceba que tem pensado dessa forma com frequência, respire fundo. Literalmente. "E se mesmo após oxigenar o cérebro, ainda tiver dificuldade para enxergar as coisas como de fato, são, pergunte a opinião de pessoas próximas. Com essa visão externa da realidade, talvez seja mais fácil tomar consciência", recomenda. E não custa lembrar: errar é humano.
3. "Foi culpa minha"
Quem tem o hábito de se achar culpado de tudo, até mesmo dos defeitos dos filhos, por exemplo, também faz papel de vítima. "Mas, nesse caso, de si mesmo", alerta Suplicy. Culpa, no entanto, não é o mesmo que responsabilidade, segundo a especialista. Ao assumir o papel de mártir, você tira de si a obrigatoriedade de solucionar o problema. Só que esse padrão pode trazer consequências emocionais graves por conta do peso que o indivíduo carrega.
Para se livrar desse padrão de pensamento, Suplicy conta que é preciso ressignificar os fatos, em vez de simplesmente remoê-los sem parar. Isto é, analisá-los sob diferentes ângulos, negativos e positivos. Se depois disso, se descobrir que a culpa foi realmente sua, tudo bem. "Agora, você tem novos conhecimentos sobre o assunto e terá mais chances de resolvê-los, caso passe por isso de novo", afirma.
4. "Não sei receber elogios"
É uma dificuldade comum em quem não se considera merecedor de tudo o que conquistou e, como não se vê daquela forma, pode até acreditar que o comentário tem um fundo de ironia. Ou, pior ainda, apontar seus defeitos em contrapartida. Como alguém que, ao ser elogiado pela comida, diz que poderia estar mais ou menos salgado.
Além disso, em nossa cultura, segundo o psicobiólogo Monezi, concordar com um elogio pode ser visto como arrogância. "Mas, pelo contrário, está agindo com humildade, sim, afinal, está aceitando a opinião alheia". Ficou sem graça e não sabe o que responder? Apenas agradeça, que já é um bom começo. Mais adiante, vale a pena refletir sobre os elogios, já que todo feedback é importante para se tornar uma pessoa melhor, seja para você ou para os que o cercam.
5. "Pode contar comigo"
Ela está sempre disposta a ajudar, custe o que custar. E o que há de mal em ser altruísta? Nada, desde que você não aja dessa forma para ganhar a atenção dos outros ou, depois, pedir algo em troca. "Em geral, a pessoa com esse perfil tem necessidade de reconhecimento. Ela sequer sabe que está se sabotando. Porém, ao se colocar em segundo lugar, põe em risco os próprios desejos", diz Suplicy. Uma solução para descobrir se não está exagerando, segundo a especialista, é observar se as pessoas que você ajuda não estão incomodadas por não conseguirem corresponder à altura.
Identificou-se? E agora?
Identificou-se com algum (ou vários) deles? Todos podemos apresentar esses padrões de pensamento, em maior ou menor grau. Para fugir deles, já que eles podem causar desconforto, muitas pessoas usam distrações como comida, redes sociais, compras e assim por diante.
Por isso, técnicas de meditação que ajudam a focar no presente, como o mindfulness, acalmam e são eficientes para lidar com as próprias emoções, de acordo com a bióloga Elisa Kozasa, pesquisadora do Instituto do Cérebro, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. "E quando elas prejudicam atividades importantes do nosso dia a dia, como o trabalho ou os relacionamentos, além da alimentação e do sono, por exemplo, é sinal de que você precisa de ajuda profissional", diz a especialista. Fique atento.

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