terça-feira, 30 de abril de 2019

segunda-feira, 29 de abril de 2019
SOFRER E SUPORTAR

“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7). Quero me concentrar nos aspectos “sofrer” e “suportar” do amor. Eles não são a mesma coisa, mas há uma estreita ligação entre sofrer e suportar porque ser capaz de passar pelo sofrimento da dor é importante para ser capaz de suportá-la. E se o amor vai ter que “suportar” na vida cristã, o amor deve ser capaz de sofrer uma certa quantidade de dor e desapontamento.
Acho que Paulo está falando sobre a graça de Deus no dom do amor que nos possibilita lidar com o sofrimento. O Novo Testamento fala muito sobre a realidade da dor e do sofrimento humanos, e o sofrimento é algo que somos chamados a sofrer e exortados a suportar. Agora, quando falamos sobre suportar, estamos falando de poder permanecer com algo que geralmente é mais do que um período de tempo prolongado, mas certamente finito. Nós distinguimos entre corridas de velocidade e corridas de resistência. Diferentes habilidades e pontos fortes são necessários para correr os cem metros rasos e para correr uma maratona de quarenta kilômetros. Mas ambas as corridas têm um período de tempo definido e finito – uma pode durar cerca de dez segundos, e a outra pode durar de duas a três horas. Quando a Escritura nos fala sobre a realidade do sofrimento, sempre nos lembra que o sofrimento é por um período determinado. E a promessa de Deus para o cristão é que não haverá uma experiência eterna e implacável de dor para os remidos; antes, a promessa garante um fim completo para todo sofrimento. Essa promessa para o futuro é repetida várias vezes nas Escrituras para nos dar esperança, fortalecer nossa determinação e nossa capacidade de sofrer e suportar a dor quando ela atinge este mundo. A Palavra de Deus nos diz que o sofrimento ao qual somos chamados a suportar neste mundo não é digno de ser comparado com a glória que aguarda os santos no final da sua vida. Mas enquanto isso, toda a vida pode parecer uma corrida de resistência.
Anos atrás, tive o privilégio de visitar a casa de um ex-zagueiro do Miami Dolphins e conhecer sua esposa, que estava morrendo de câncer. Foi um privilégio porque ela era uma mulher cristã profundamente comprometida. Eu me sentei ao lado dela, ela olhou para mim, uma única lágrima fluiu de seus olhos, e ela disse: “R.C., eu só não sei o quanto mais eu posso aguentar. Isso chegou a um ponto que parece insuportável.”
Ela não estava reclamando ou sendo amarga. Ela estava simplesmente cansada. Nós oramos juntos. Saí e vários dias depois recebi o relatório de que ela havia falecido. Ela lutou o bom combate pela fé, ela completou a corrida e manteve a fé. E sua dor acabou – para sempre. Eu olho para a vida dela e me pergunto se eu poderia suportar esse tipo de sofrimento demorado e prolongado sem me tornar alguém de quem fosse absolutamente impossível estar por perto, sem me tornar amargo e irritado. Mas é aqui que a coisa fica séria. Nós amaremos a Deus quando estivermos sofrendo, quando a dor da nossa experiência for tão intensa
Dor e sofrimento tendem a corroer não apenas o nosso amor, mas também a nossa fé, porque começamos a nos perguntar se Deus nos ama e se ele é mesmo real. Perguntamos como, neste mundo, ele pode deixar essa dor implacável tomar conta de nossas vidas. É por isso que é tão importante manter nossa atenção na Palavra de Deus. Dizemos para não nos surpreendermos quando o sofrimento vier em nossa direção. O Novo Testamento não diz que o sofrimento pode ocorrer – diz que é uma certeza. Lembre-se do que Paulo diz em 2Coríntios 11 quando ele fala sobre o que ele sofreu por causa do evangelho: espancamentos, apedrejamentos, perigo de morte, naufrágios, dias e noites no mar e constantemente sendo alvo de hostilidade humana. Por que ele estava disposto a suportar essas coisas? Porque ele entendeu o propósito divino para o sofrimento e a promessa divina não apenas de alívio do sofrimento, mas da redenção do próprio sofrimento. Nesse ínterim entre a ressurreição e o retorno de Cristo, os cristãos são chamados a participar das aflições de Cristo (Cl 1.24). Ao sofrer e suportar a dor, andamos nos passos de Jesus para espelhamos e refletirmos ele mesmo aos outros. Dor e sofrimento são oportunidades para mostrar o amor que Deus tem derramado em nossos corações
Voltando para a esposa do ex-zagueiro, poderíamos olhar para sua dor e dizer: “Aqui está uma mulher a quem Deus não amava”. Ou poderíamos olhar para ela e dizer: “Aqui está uma mulher a quem Deus amava tão profundamente ao ponto de confiar tal dor e sofrimento a ela, sabendo que ela iria suportar”. Isso é grandeza real. Isso é uma conquista real.
Um problema que temos em nossos dias é a crença popular de que Deus nunca deseja dor ou sofrimento. Muitos ensinam que, se você confia em Jesus, todos os seus problemas acabarão, e você nunca terá que viver com privação, perseguição ou dor. As pessoas que dizem tais coisas já leram o Novo Testamento? Apenas uma leitura superficial lhe diz que, se você está em Cristo, sofrerá, será afligido, será perseguido. A vida cristã é uma peregrinação cheia de dor, aflição e perseguição. E quanto mais amamos a Deus, e quanto mais consistentes somos com o amor do qual o Apóstolo fala em 1Coríntios 13, mais seremos odiados e perseguidos, e acharemos necessário sofrer e suportar todas as coisas. Mas o que torna isso possível é o amor.
Entre “sofrer” e “suportar”, somos informados de que o amor “tudo crê, tudo espera”. É somente quando acreditamos na Palavra de Deus e temos confiança em nosso futuro que podemos sofrer e suportar.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

Eles não enxergaram o Messias


O trecho abaixo foi extraído com permissão do livro Boas Novas, de John MacArthur, Editora Fiel.

A Escritura deixa claro que os judeus nutriam altas expectativas com relação ao Messias há muito esperado – expectativas que Cristo não necessariamente preencheu num primeiro momento. Eles tinham certeza que o Messias seria um homem – não um anjo, e também não Deus – simplesmente um homem. E não apenas um homem qualquer, mas um filho de Davi. Com base nas promessas da aliança de Deus com Davi, eles aguardavam o herdeiro de Davi que estabeleceria o reino eterno. Eles esperavam que quando o Messias viesse, seria um homem com tremenda autoridade e influência, que assumiria o poder, destronaria os romanos e todos os inimigos de Israel, e cumpriria instantaneamente todas as promessas de reino feitas a Abraão, Davi e aos profetas. E ao fazer essas coisas, ele traria salvação plena a Israel.

Até mesmo os discípulos nutriam tal expectativa. Lucas nos diz que eles criam que o Messias inauguraria o reino (Atos 1.6). Mas o povo achava que ele seria apenas um homem, e um filho de Davi. E nosso Senhor Jesus Cristo se utilizou dessas expectativas para levantar a pergunta fundamental: seria o Messias meramente um homem?

É possível dividirmos essas afirmações públicas finais de Jesus em categorias, pensemos em Lucas 20.41-44 como o convite final de Cristo. A despeito do ódio dos líderes, a despeito do interesse instável da multidão descompromissada, Jesus ainda era um evangelista misericordioso. Apenas alguns dias distante das agonias da cruz, mais uma vez ele esclareceria quem ele é e chamaria pecadores arrependidos a crer.

No relato paralelo de Mateus 22.42, Jesus pergunta: “Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?” Ele direcionou tais palavras aos fariseus e aos escribas, enquanto podia ser ouvido por todo o povo que ali estava. O mesmo versículo contém a resposta deles: “De Davi”. Todos entendiam e esperavam um Messias de linhagem real. Curiosamente, Mateus registra a pergunta com um artigo definido: “Que pensais vós do Cristo?” (ênfase acrescentada). Naquele momento Jesus não estava enfatizando a si mesmo. Estava simplesmente perguntando: “Como é que vocês enxergam o Messias? De quem ele é filho?” E a resposta foi: “De Davi”.

A compreensão deles parou aí. Eles tinham uma concepção um tanto equivocada do Messias – eles esperavam que ele fosse nada mais que um homem com direito adquirido ao trono de Israel. Não era algo completamente herético ou blasfemo, mas era incompleto, e quando se está tratando da pessoa e obra de Cristo, incompleto é igual a errado.

Qualquer judeu teria respondido à pergunta relativa à identidade do Messias da mesma forma, pois é o que o Antigo Testamento ensina em 2 Samuel 7, Salmo 89, Ezequiel 37, e em várias outras passagens. De acordo com Mateus 9.27, “partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando: Tem compaixão de nós, Filho de Davi!” Lucas retrata no capítulo 18 que mais tarde no ministério de Jesus, enquanto passava por Jericó, ele encontrou outro cego. E o cego clamou: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim!” (Lucas 18.39). Mateus 12 declara: “Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e a ver. E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?” (Mateus 12.22-23). Foi isso que todos entenderam: que o Messias era um filho de Davi.

De fato, Zacarias, o pai de João Batista, serve como boa ilustração disso. Quando Zacarias ouviu que a vinda do Messias era iminente (porque Deus havia prometido dar a ele e à sua mulher estéril – Isabel – um filho que seria o precursor do Messias), ele foi cheio do Espírito Santo (Lucas 1.67) e profetizou:  Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo (vs. 68-69).

Visto que o Messias seria o filho de Davi, a maneira mais óbvia que os líderes judaicos tinham à disposição para desacreditar Jesus ou contestar suas afirmações de messianidade teria sido retirar os registros do templo e mostrar que ele não havia nascido da linhagem de Davi. Esteja certo que os fariseus e escribas pesquisaram e confirmaram esse detalhe crucial. Mais à frente veremos que o Messias teria de vir antes que o templo fosse destruído porque todos os registros do templo foram igualmente destruídos, junto com o templo. Tais genealogias e a incontestável linhagem de Cristo permanecem como testamentos da precisão do plano soberano de Deus.

Isso posto, a resposta dos fariseus à pergunta de Cristo é precisa: “Ele é filho de Davi”. Mas a resposta deles é inadequada e incompleta. Visando o restante da resposta, o Senhor Jesus Cristo fez uma breve exposição do Antigo Testamento:

Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi? Visto como o próprio Davi afirma no livro dos Salmos: “Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Assenta-te à minha direita,

Até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés’”. Assim, pois, Davi lhe chama Senhor, e como pode ser ele seu filho? (Lucas 20.41-44).

Isso é absolutamente surpreendente e brilhante. Nenhum pai que se preze jamais chamaria seu filho de “Senhor”. Por que Davi está chamando seu filho de “Senhor”, Adonai, no Salmo 110.1?

Alguns comentaristas judeus concluíram que Davi cometeu um erro, como se não devesse ter dito o que disse. Mas Mateus 22.43 declara: “Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor…?” Outros críticos sugerem que Davi proferiu essas palavras em seu próprio espírito humano. Mas Marcos 12.36 afirma: “O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo”. Quando Davi chamou o Messias de seu Senhor, foi por inspiração do Espírito Santo.
terça-feira, 23 de abril de 2019

Igrejas liberais estão morrendo, mas as conservadoras crescem

Estudo mostra que crise teológica e moral resultou em fechamento de igrejas



As igrejas protestantes mais antigas estão em apuros. Um relatório de 2015, feito pelo Centro de Pesquisa Pew, mostra que essas congregações, que no passado eram a maioria no cenário cristão, estão diminuindo rapidamente nos Estados Unidos. Perdendo quase um milhão de membros por ano.

Com menos fiéis, diminuíram as entradas e com isso elas entraram em declínio. Dezenas de templos estão sendo fechados anualmente.

Um número reduzido de líderes denominacionais e pastores têm feito vários esforços para reverter essa tendência e voltar a atrair pessoas à igreja. Quase 20 anos atrás o bispo anglicano John Shelby Spong publicou o livro “Por Que o Cristianismo Precisa Mudar ou Morrer.”

Spong, um teólogo liberal, ensinava que só cresceriam as igrejas que abandonassem a interpretação literal da Bíblia e se adaptassem às transformações sociais. Isso incluiria, por exemplo, a aceitar o divórcio, o aborto e o casamento gay como “normais”. Ironicamente, o livro era apresentado como um “antídoto” para o declínio das grandes denominações evangélicas.

Segundo o The Washigton Post, esse tipo de teologia defendido por Spong ainda é popular, em especial nas mais tradicionais, como a Igreja Metodista Unida, a Igreja Evangélica Luterana, a Igreja Presbiteriana dos EUA (PCUSA) e a Igreja Episcopal.

Após duas décadas, os números mostram que essa mentalidade liberal não apenas foi incapaz de resolver o problema de declínio na frequência, mas em alguns casos dividiu e enfraqueceu as denominações.

Na Igreja Unida do Canadá, um levantamento recente mostra que 20% dos pastores afirmaram não crer no Deus descrito na Bíblia. Vinte e nove por cento acredita em Deus, mas não o vê como “sobrenatural”. Pouco mais de 2% disseram ver Deus como uma “força” e 15,6% percebem Deus como uma “metáfora”.

Entre os presbiterianos, por exemplo, surgiu a Evangelical Covenant of Presbyterians, que reúne hoje cerca de 300 igrejas que se cansaram da agenda liberal da PCUSA.

Por outro lado, continuam com tendência de crescimento as igrejas pentecostais e as que não negam a Bíblia como Palavra de Deus.

A pesquisa

O estudo conduzido pela Pew, chamado “Teologia importa: Comparando os traços de crescimento e declínio em Igrejas Protestantes”, pode ser lido na íntegra aqui, em inglês

O diretor da pesquisa, David Haskell, observou que o estudo aponta como as igrejas que estão crescendo “se mantém firmes nas crenças tradicionais do cristianismo e são mais envolvidas em práticas como oração e leitura da Bíblia”.

Haskell observou ainda que a confiança sentida quando lhe é apresentado um conjunto de crenças coesas, acaba sendo atraente para não crentes.

O ensino de doutrinas centrais, consideradas verdades inalteráveis “faz com que os visitantes ganhem confiança. Essa confiança, aliada a uma mensagem edificante, reconfortante ou claramente positiva é uma combinação atraente”.

O estudo também encontrou uma correlação entre o crescimento das igrejas e as práticas dos seus pastores. Aqueles que declaram ler a Bíblia diariamente e consideram o evangelismo “importante” conseguem manter um crescimento mais sólido.

Por exemplo, 71% dos líderes das igrejas em crescimento liam a Bíblia diariamente, enquanto apenas 19% dos pastores das igrejas que perdem membros têm esse hábito.

Além disso, 100% dos pastores responsáveis pelas igrejas em ascensão dizem ser “muito importante encorajar os não cristãos a se tornarem cristãos”, em comparação com os 50% do clero das igrejas com declínio da membresia.

Outro aspecto da investigação foi como o louvor influenciava o crescimento. As congregações que optam por um estilo de adoração contemporâneo, com instrumentos musicais e cânticos, em média crescem mais que as igrejas que optam apenas pelo um estilo “tradicional”, com órgão e um coral.

O material confronta outros estudos semelhantes publicados nos últimos anos mostrando que para as pessoas que frequentam igrejas a teologia ensinada não era ‘relevante’.


Salvas para a santidade




O trecho abaixo foi retirado com permissão do livro Renovadas, de Jen Wilkin, Editora Fiel.

Eu esperaria que a primeira coisa na qual deveríamos pensar em relação a Deus fosse algo incomunicável — algo típico apenas do Todo-Poderoso —, mas não é. A santidade é um atributo de Deus que podemos refletir. Reserve alguns instantes para se maravilhar com esse pensamento.

A santidade permeia o chamado cristão por inteiro. Está no cerne do evangelho. Não fomos apenas salvas da depravação; somos salvas para a santidade. A conversão requer consagração.

A Bíblia apresenta a santidade como tendo sido dada a nós e requerida de nós. E diz: “Em Cristo, vocês foram feitos santos. Agora, sejam santos”.

Hebreus 10.10 nos assegura: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”. Que verdade bendita! O sacrifício de Cristo nos concede santidade posicional diante de Deus. No entanto, a Bíblia descreve não apenas santidade posicional, mas também santidade prática. Mais uma vez, a repetição serve como mestre. O Antigo Testamento fala da santidade com um tom imperativo — e faz isso repetidas vezes: “Pois eu sou o SENHOR, o Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo. Não se tornem impuros com qualquer animal que se move rente ao chão. Eu sou o SENHOR, que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por isso, sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44-45, NVI).

“Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: Sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo” (Lv 19.2, NVI)

“Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus” (Lv 20.7);

“Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus” (Lv 20.26).

Podemos ser tentadas a descartar essas instruções como apenas mais uma parte estranha de um livro estranho do Antigo Testamento, como algo que não se aplica mais àqueles que estão sob a nova aliança. No entanto, o Novo Testamento encontra essas palavras ecoadas nos lábios do próprio Jesus, no Sermão do Monte. Ele desconstrói as leis do Antigo Testamento sobre homicídio, adultério, divórcio, juramento, retaliação e sobre como tratar os inimigos, apontando para uma obediência mais profunda, não apenas de atos externos, mas também de motivos internos. Aqui está a justiça que excede a dos escribas e fariseus. Qual declaração ele escolhe para concluir seu ponto de vista? “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48).

Trata-se de uma declaração tão assustadora que nos sentimos tentadas a achar que ele a emprega pelo valor do choque que causa. Certamente é apenas Jesus empregando uma hipérbole. Mas isso não soa como alguém sentado a seus pés na encosta de uma montanha teria ouvido. Uns trinta anos mais tarde, Pedro escreve a um grupo de crentes recém-convertidos:

“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1Pe 1.14-16).

Pedro repete o que foi repetido para ele. Não se conformem com quem vocês eram. Sejam reformados para aquilo que vocês devem ser. Sejam santos como Deus é santo.

Se você ainda estiver se perguntando qual é a vontade de Deus para sua vida, permita que o apóstolo Paulo remova qualquer vestígio de confusão:

“Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação […] porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação” (1Ts 4.3, 7).

Em termos simples, a vontade de Deus para sua vida é que você seja santa. Que viva uma vida separada. Que, pelo poder do Espírito Santo, você se esforce para ter total pureza de caráter (Hb 12.14). Toda admoestação contida na totalidade da Escritura reduz-se a isso. Toda advertência, toda lei e todo encorajamento se curvam diante desse propósito, que a tudo engloba. Toda história em todo canto de todo o livro da Bíblia repete esse chamado. Sede santos, pois ele é santo.


segunda-feira, 22 de abril de 2019



ENCONTRANDO JESUS NAS FESTAS DO ANTIGO TESTAMENTO




O pecado padrão da raça humana é colocarmos a nós mesmos em primeiro lugar. “É tudo a respeito de mim!” foi um slogan engraçado que vi numa camiseta. E se tornou agora a maneira de viver. A menos que pregadores e mestres da Bíblia sejam cuidadosos, a maneira como lidamos com a Escritura pode realmente alimentar esta besta. Apressamo-nos à aplicação, consumidos por esta pergunta: “Como isto é relevante para mim?”

No entanto, a Bíblia é teocêntrica, e não antropocêntrica. Ela está mais interessada em delinear os caminhos de Deus – seu caráter, propósitos e plano redentor cósmico (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira”) do que em dar aos crentes modernos estímulos que edificarão o caráter (“Sejam corajosos como Daniel; lidere como Neemias; com a fé de Abraão”).

Temos de começar por lembrar a narrativa abrangente da Escritura. A Bíblia é notável: 66 livros, dezenas de autores humanos, 1.500 anos de elaboração, vários tipos de literatura. Mas sua grande diversidade é mantida em união por um fio dourado, uma narrativa singular em três movimentos – criação, queda e redenção. Esta narrativa estabelece o contexto histórico crucial para a vinda de Jesus Cristo. Este contexto histórico apresenta caracteres, estabelece relações e define palavras-chave. Neste caso, o Antigo Testamento apresenta Jesus, define sua obra como Messias e estabelece a estrutura teológica para entendermos a redenção de Deus. Uma breve consideração de duas festas do Antigo Testamento é ilustrativa. A primeira festa é a Páscoa, a festa familiar que se baseava no êxodo. Algumas de suas características (o anjo da morte, sangue nas ombreiras, uma refeição comida às pressas) são partes bem conhecidas da história. O importante é que todas elas são sombras do Cristo vindouro.

Jesus ministrou em um contexto judaico, observando a Páscoa com seus discípulos. Mas ele se esforçou por mostrar que os costumes eram mais do que contexto; eles o definiam.

A Torá exigia que cordeiros selecionados fossem colocados à exposição pública durante quatro dias (Êx 12.3-6), para certificar-se de que eram imaculados. Jesus, depois da entrada triunfal, se apresentou a si mesmo no templo durante aquele período exato, para cumprir aquele mesmo propósito. Ele se submeteu às provas realizadas pelos fariseus, herodianos, saduceus e escribas (Mc 12.13), foi julgado diante do Sinédrio e de Pilatos e comprovou ser imaculado.

“Este é o meu corpo” e “este cálice é a nova aliança no meu sangue” são as sentenças-chave da Ceia do Senhor, mas foram proferidas durante o Sêder Pascal. Os alimentos – e o verdadeiro êxodo – se acham em Jesus.

A Páscoa era tanto uma festa familiar como comunitária. O cordeiro escolhido “para a nação” era amarrado num poste no pátio do templo às 9h da manhã, no dia da Páscoa, e imolado publicamente às 3h da tarde. Assim também aconteceu com nosso Senhor – pregado na cruz às 9h da manhã, ele morreu às 3h da tarde, assim como o animal de quatro patas morria em liturgia que concluía: “Está terminado!”

Por que esses detalhes são importantes? Porque o âmago da morte de Jesus – em contrário à teologia popular egoísta – não é meramente quanta dor física ele suportou por mim. Antes, é o que Deus realizou por meio da morte de Jesus. A resposta se acha nas figuras envolvidas na Páscoa. A história da Páscoa (Êx 12.2) começa com estas estranhas palavras: “Este mês vos será… o primeiro mês do ano”. Com a Páscoa, Deus reformula o calendário dos judeus. A antiga vida deles como escravos estava acabando, uma nova vida como filhos, começando. A morte de Jesus anunciou o mesmo, mas em uma escala muito maior. Paulo declara: “Fomos unidos com ele na semelhança da sua morte” (Rm 6.5). Mas ele também exulta: “Tragada foi a morte pela vitória” (1 Co 15.54). A morte com um “M” maiúsculo – não somente a morte física pessoal, mas o reino devastador do pecado sobre o mundo do primeiro Adão (Rm 5.12-21) – foi vencido na cruz de Cristo.

Se o reino da morte foi vencido na cruz, onde surge o novo? Surge na ressurreição de Jesus na Festa das Primícias. As origens desta festa do Antigo Testamento eram agrícolas: os primeiros feixes eram trazidos ao tabernáculo para compartilhar a bondade de Deus com os pobres e estrangeiros. Mas a festa sempre inclinava Israel o olhar para frente, anunciando o dia em que toda a vida seria novamente “muito boa”, como antes havia sido.

Paulo usa a linguagem de festa para explicar isto (1 Co 15.20). Visto que a morte de Jesus venceu a morte, também, como segundo Adão, a sua ressurreição fez surgir uma nova criação, um reino de graça (Rm 5.21). Cristo é as “primícias” deste novo mundo. Ressuscitados com ele, nós, “que temos as primícias do Espírito” (Rm 8.23), também somos as primícias da nova criação (Tg 1.18).

Portanto, a Festa das Primícias, do Antigo Testamento, é a base de uma escatologia vigorosa e prática do Novo Testamento (uma visão da era por vir).

Estes são apenas dois exemplos breves; há várias outras festas, inúmeras práticas do templo e narrativas históricas que servem para anunciar a redenção que viria em Jesus. Um evangelho moldado pela rica história do Antigo Testamento é evangelicamente muito mais convincente, porque honra a unidade coerente da Escritura. E esse evangelho produz discípulos que têm uma autoimagem mais saudável: eles resistem ao pecado padrão de colocar a si mesmos em primeiro lugar e aprendem a negar a si mesmos e seguir a Jesus.




Poluição sonora em cultos leva Justiça a condenar pastor a 1 ano e oito meses



O barulho excessivo nos cultos e a insistência em manter o som alto levou um pastor a ser condenado pela Justiça a prestar 1 ano e oito meses de serviços comunitários.

A poluição sonora é uma das principais fontes de atrito entre as igrejas evangélicas que usam templos adaptados e seus vizinhos. Na comarca de Sombrio, em Santa Catarina, o imbróglio terminou com um processo.

De acordo com informações do portal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), o prédio usado pela igreja foi construído em área predominantemente urbana, cercado por casas e estabelecimentos comerciais, e nos dias de culto o nível de ruído era excessivo.

Como o pastor era responsável legal pela igreja, acabou responsabilizado pelo crime de poluição sonora. Além da pena de serviços comunitários e/ou a entidades públicas, ele deverá pagar multa de um salário mínimo.

O templo da igreja não possuía isolamento acústico apropriado e os cultos produziam barulho em níveis que extrapolavam os limites estabelecidos, em níveis considerados prejudiciais à saúde humana, à segurança e ao sossego público no entorno.

A medição dos ruídos e constatação dos excessos no local foram realizadas pela Polícia Militar Ambiental e também pelo Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina.




sexta-feira, 19 de abril de 2019

5 razões por que o Pai disse “Não” para o Filho no Getsêmani




Uma das cenas mais comoventes em todos os Evangelhos é a noite em que o Senhor dos céus e da terra deitou o rosto em terra em uma oração agonizante, suando sangue. Mateus 26 nos dá um relato:

Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Então lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui, e velai comigo. E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. E, voltando para os seus discípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca. E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai meu, se este cálice não pode passar de mim sem eu o beber, faça-se a tua vontade. E, voltando, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos estavam pesados. E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras. Então chegou junto dos seus discípulos, e disse-lhes: Dormi agora, e repousai; eis que é chegada a hora, e o Filho do homem será entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, partamos; eis que é chegado o que me trai.

Três vezes o Filho de Deus pede ao Pai para afastar o cálice da ira de Deus. Três vezes o céu permaneceu em silêncio. Mas, no silêncio da noite fria um inconfundível “Não” pode ser ouvido. Não, não era possível afastar o cálice e cumprir a missão. Não havia outra maneira.

Mas por quê? Por que não havia outra maneira possível para um Deus onipotente? Por que Jesus teve de beber o cálice?

Cinco respostas se apresentam:

1) O Pai responde “Não” porque precisamos de um Sumo Sacerdote que pode identificar-se conosco.

Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.
(Hebreus 2.16-18)

Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. (Hebreus 4.15)

2) O Pai responde “Não” porque Jesus é o único mediador possível entre Deus e o homem.

Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. (Romanos 8.7)

Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. (1 Timóteo 2.5)

E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos. (Atos 4.12)

3) O Pai responde “Não” porque de outra forma não haveria expiação pelo nosso pecado.

Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. (Hebreus 2.17)

Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. (1 João 4.10)

4) O Pai responde “Não” porque não havia outra maneira de vindicar Sua própria justiça

Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. (Romanos 3.25-26)

5) O Pai responde “Não” porque não havia melhor maneira de revelar a glória mútua do Pai e do Filho.

Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar. (João 13.31-32)

Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. (João 17.1-5)

Por que me alegro com o silêncio do Pai

Não devemos pensar que nenhuma resposta foi dada na assombrosa noite no Getsêmani. Nem devemos pensar que o “Não” silencioso do Pai indicou uma negligência sem propósito, como se Deus Pai fosse um pai desnaturado divino. Devemos entender que o único Pai Perfeito encontrou ocasião para negar o pedido do Filho Perfeito porque tal negativa alcançava um fim perfeito – um Sumo Sacerdote perfeitamente qualificado, reconciliação por meio do único Mediador Deus-homem, expiação amorosa pelos pecados dos homens, vindicação da justiça do Pai, e a glória sempre recíproca do Pai no Filho e do Filho no Pai! A resposta silenciosa no Getsêmani será eternamente ouvida nos alegres brados de louvor do universo!

Porque o Pai respondeu “Não”, os pecadores tem um Sumo Sacerdote perfeitamente íntimo com suas fraquezas, misericordioso e fiel. Temos Alguém a quem nos aproximamos pela graça. Porque o Pai respondeu “Não”, temos aquele que coloca-se entre nós em toda nossa impiedade e Deus em toda Sua santidade para reconciliar e unir-nos como amigos, e não rebeldes. Porque o Pai respondeu “Não”, aqueles que têm fé em Cristo não precisam jamais temer a ira do Pai novamente; Sua ira foi totalmente satisfeita na expiação do Filho. Porque o Pai disse “Não”, permanecemos seguros de que nossa aceitação por Deus aconteceu em fundamento completamente legítimo – sem truques, sem brechas nas leis, sem ficção legal, sem injustiça que ameace ou questione a troca de nosso pecado pela justiça de Jesus. Porque o Pai disse “Não”, iremos desfrutar e compartilhar eternamente da glória do Pai e do Filho na eterna e perpétua era porvir.

Eu me alegro porque o Pai disse “Não”.


quinta-feira, 18 de abril de 2019




Quando celebrar a páscoa?
Quando-celebrar-a-pascoa
A temporada da Páscoa em nosso calendário litúrgico é uma excelente ocasião trazer à vista dos incrédulos, dos afastadas e dos crentes meramente nominais a verdade a respeito da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus.
Porém, se a Páscoa serve para lembrar aos cristãos a respeito desse sacrifício, tem algo muito errado!
A morte e ressurreição do Senhor são o centro da mensagem do Evangelho e esta deve fazer parte da nossa vida cotidiana e ser lembrada, seja na exposição da Palavra ou na Palavra pregada, todos os domingos!
Paulo, por exemplo, disse que o centro da sua pregação contínua era pregar a Cristo, e este crucificado. Os cristãos vivem em torno da Cruz e do poder da ressurreição, celebram a Páscoa a cada vez que tomam a Ceia e devem estar ouvindo, pelo menos semanalmente, a respeito de Cristo, sua pessoa, sua obra e seu ensino.
Não me entendam mal. Não sou contra a celebração de um calendário litúrgico, mas se ele serve para substituir a essência da mensagem cristã, precisamos repensar isto! Assim, aproveite este momento em que estão falando sobre o tema e pregue a mensagem verdadeira, Cristo.





































































































































































































































































































































































































A temporada da Páscoa em nosso calendário litúrgico é uma excelente ocasião trazer à vista dos incrédulos, dos afastadas e dos crentes meramente nominais a verdade a respeito da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus.

Porém, se a Páscoa serve para lembrar aos cristãos a respeito desse sacrifício, tem algo muito errado!

A morte e ressurreição do Senhor são o centro da mensagem do Evangelho e esta deve fazer parte da nossa vida cotidiana e ser lembrada, seja na exposição da Palavra ou na Palavra pregada, todos os domingos!

Paulo, por exemplo, disse que o centro da sua pregação contínua era pregar a Cristo, e este crucificado. Os cristãos vivem em torno da Cruz e do poder da ressurreição, celebram a Páscoa a cada vez que tomam a Ceia e devem estar ouvindo, pelo menos semanalmente, a respeito de Cristo, sua pessoa, sua obra e seu ensino.

Não me entendam mal. Não sou contra a celebração de um calendário litúrgico, mas se ele serve para substituir a essência da mensagem cristã, precisamos repensar isto! Assim, aproveite este momento em que estão falando sobre o tema e pregue a mensagem verdadeira, Cristo.


terça-feira, 16 de abril de 2019

“O Estado é laico!” – A falácia do Estado ateu nas universidades


A-falacia-do-Estado-ateu-nas-universidades
O ambiente acadêmico brasileiro ainda dá muito o que falar (especialmente o público). Não apenas pelos alunos confusos em relação à sua vocação, fragilizados intelectualmente, ou que perpetuam atos de corrupção endêmica na hora de fazer uma prova (o famoso: colar na prova). Temos que lidar com professores que espalham ideias distorcidas e narrativas – quer como uma extensão do que receberam outrora como alunos, quer por desonestidade.

A grande verdade é que já passou o tempo de ser vítima da manipulação direta ou indireta, por parte de líderes pretensiosamente negligentes – a busca pela efetização de uma coalização pelo evangelho, nos faz contar com o reconhecimento das estruturas fortes que Igreja possui, além de perceber o direito como aliado à religiosidade cristã – mas ainda existem “hot spots” (pontos quentes), que não podemos esquecer. Nesta primeira parte de nosso texto, vamos abordar que o exercício da religião, em sua plenitude, é a comprovação da existência de senso crítico na cristandade. Passamos ao texto.

“Crede, Ut Intelligas: O exercício da religião é a comprovação de existência do senso crítico da cristandade”

A universidade é um ambiente para o desenvolvimento do senso crítico – de fato, não há dúvidas que está frase é verdadeira e importante. Entretanto, vemos em nossa era a profissão de fé tratada como um objeto estranho a essência da Universidade – fruto de uma constante separação entre fé e intelecto. Contudo, a história nos demonstra que a preocupação com o intelecto é uma das características da Igreja – protagonista na construção de centros para o exercício do saber, conforme aponta Justo L. González:

“A origem da maioria das universidades modernas – Paris, Salerno, Bologna e Oxford – datam do século 12, e tal origem é o resultado de uma combinação de fatores tais como a tradição das escolas catedrais […]. Porque Paris e Oxford tinham as melhores faculdades teológicas, a teologia ocidental gravitou em torno daqueles dois grandes centros universitários durante o século 13.”[1]

Este cenário que enaltece a ligação entre fé e conhecimento ganha mais força com os “cônegos regulares de Santo Agostinho”[2] – uma ordem criada por São Dominique, em 1215 d.C., com o objetivo de criar novas regras monásticas, para responder através de uma vida santa, tudo aquilo que contrariasse os pilares da verdadeira Igreja:

“Desde sua origem, esta nova ordem insistiu na importância do estudo para a concretização desta tarefa. A vida monástica foi adaptada às necessidades do estudo, pregação e o cuidado das almas. A princípio, os dominicanos centraram seus estudos e ensino em seus próprios monastérios. Mas eles logo vieram a ocupar cadeiras das principais universidades, especialmente Paris e Oxford.”[3]

Figuras da Igreja ocuparam e investiram nas “escolas catedrais que tornaram-se as universidades, espaço de pesquisa e produção do saber, mas também foco de vigorosos debates”[4] – vale lembrar da entrada do pensamento de Aristóteles e da filosofia árabe e judaica que também permearam, por anos, os debates acadêmicos. A motivação para estes envolvimentos entre fé e conhecimento está ligado à premissa bíblica reproduzida por Santo Agostinho: “Não procures entender para crer, mas crê para entender, porque, se não credes, não entendereis”[5].

Os cristãos sempre estiveram interessados na busca pelo conhecimento, por isso fazer parte da sistemática natural da Fé – o conhecimento em prol da excelência para a unidade cristã. Tal ideia é corroborada na proposta da mente renovada dissecada pelo Apóstolo Paulo em Romanos 12: 1-3, nas palavras de Craig S. Keener:

Continua após anúncio:

“Essa mente renovada tem consciência de que cada crente recebeu uma medida de fé para determinadas atividades (12.3,6), portanto nenhum membro é nem mais nem menos valioso que outro. Os papéis podem ser diferentes, mas cada membro recebe dons para servir aos outros, sem se vangloriar, cumprindo fielmente a incumbência de Deus como sua dádiva para o corpo.”[6]

Apesar desta herança claramente religiosa, há quem trate a fé cristã como algo intelectualmente debilitante, além de representar uma ameaça ao poder do Estado. Passeando pelas considerações salutares do Dr. Donald Carson, constataremos que isto é fruto de um julgamento “em nome da manutenção da separação entre Igreja e Estado”[7], que tem por objetivo a promoção de uma “rota da religião puramente privatizada […]”[8] – ao dissertar sobre a nova tolerância social (discurso para justificar o movimento secularista), ele apresenta uma modalidade de mundo – ao qual devemos atentar, pois é um objetivo buscado por organizações e intelectuais adversos ao Cristianismo:

“Neste mundo bastante privatizado, permite-se que os cidadãos pensem qualquer coisa que quiserem a respeito de assuntos religiosos. Como eles praticam a religião com os outros, no entanto, podem ser monitorados e altamente controlados. Pode haver uma retórica rebuscada sobre liberdade de religião (afinal, permite-se que as pessoas acreditem naquilo que desejarem), mas quase não existe uma liberdade autêntica quando a religião se torna qualquer coisa exceto completamente privada(por exemplo, passar suas crenças para os filhos, cultuar com outras pessoas em locais não especificamente religiosos, tentar trazer outras pessoas para a sua religião).” [9]

Trata-se de uma intolerância disfarçada de tolerância – situação que nos parece imperar nas universidades, especialmente às públicas, em solo brasileiro. Este trabalho de influência tem efeitos patentes e violentos, conforme veremos adiante.

Universidade como infantário

Os secularistas chamam para si a identidade de simpatizantes à liberdade religiosa, mas em casos determinantes como o exercício de culto, demonstram uma intenção de aparar, progressivamente, a dinâmica da devoção. Ou seja, usam o discurso da liberdade religiosa como instrumento para promover a privatização da religião – conforme veremos adiante, isso se dá através do processo de subversão.

Trata-se de uma técnica que consiste na distorção do significado original de uma palavra, resultando em uma adulteração do conteúdo. No Brasil, este problema ainda é forte nas universidades, tendo em vista que temos um “excesso de estruturas de plausibilidade”, ainda enfatizando as lições do D.A. Carson, citando Peter L. Berger[10], definindo-as como:

“estruturas de pensamento aceitas por uma cultura específica de forma geral e quase inquestionável. […] em uma cultura bastante diversificada, como a que predomina em muitas nações do mundo ocidental, as estruturas de plausibilidade são necessariamente mais restritas, pelo fato de haver menos posições sustentadas em comum.”[11]

Com o excesso de deturpações às acepções originais, o pensamento ocidental fica dividido, gerando um consequente enfraquecimento do senso crítico – ambiente propício para a relativização, que resulta em um cenário ao qual “saltamos da permissão da articulação de crenças dos quais discordamos para a afirmação de que todas as crenças e todos os argumentos são igualmente válidos”.[12]

Nos termos do magistério de Camille Paglia, a linha do tempo da existência acadêmica foi afetada por uma espécie de destruição do ensino das humanidades – aniquilando o ambiente propício para a vida intelectual. A professora detecta tal problema como resultado do New Criticism – um modelo de pensamento que “produziu uma geração de acadêmicos que pensavam a literatura separadamente do seu contexto histórico.”[13]

Tal identificação explica, mesmo que por analogia, o fato de algumas figuras lutarem para tornar o ambiente acadêmico totalmente afastado da religião – mesmo que a religiosidade tenha contribuído para existência da Universidade. Assim como buscam pensar a literatura fora do contexto histórico, pensam a existência de ideias múltiplas fora do plano heterogêneo de pensamento (que inclui a religião).

Isto é resultado da substituição da pluralidade  (existem ideias diferentes mas nem todas são válidas) pelo pluralismo  (só serão válidas as ideias que estão debaixo de um mesmo plano) – que resulta na imposição de uma pequena comunidade ideológica sobre a maioria[14] que deseja exercitar sua fé livremente no campus.

Como isso funciona na prática? O fato que aconteceu no campus da UFCG (Universidade Federal de Campina Grande) pode nos responder. Um grupo de oração universitário, tendo por nome Santa Terezinha de Jesus, tem os seus encontros às quartas e quintas fora dos horários de aula. Trata-se de um grupo não institucionalizado pela faculdade, sendo sua participação feita de forma voluntária para aqueles que assim o desejem. Apesar do grupo não ser um ato de imposição da faculdade (que apenas autoriza a realização da reunião), alguns professores e alunos sentiram-se contrafeitos com a existência do grupo, conforme declarações que circularam na Universidade. O argumento para justificar a insatisfação toma por base uma suposta “ameaça quanto a laicidade do Estado”, somada a um argumento de que “a Universidade é lugar de produção de conhecimento científico e do debate calçado no pensamento crítico”.

O argumento é defeituoso por dois motivos: 1) É subversivo – porque não expõe a real ideia do conceito de Estado Laico; e 2) É contraditório – por usar a característica de “ambiente para o pensamento crítico” como justificativa para vedar a realização de um encontro religioso. Como se proteger de tais afrontas? O Direito Religioso pode ser um bom aliado para tratar dessas questões e é exatamente o que veremos na segunda parte deste texto. Acompanhe as publicações do Voltemos ao Evangelho para não perde-lo!


[1] GONZALÉZ, Justo L. UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO – volume 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 218.
[2] Ibdem, p. 220
[3] Ibdem, p. 220
[4] FERREIRA, Franklin. A IGREJA CRISTÃ NA HISTÓRIA: DAS ORIGENS AOS DIAS ATUAIS. São Paulo: Vida Nova, 2013. P. 123 e 124
[5] AGOSTINHO, Santo. TRATADO AO EVANGELHO DE JOÃO. 29.6
[6] KEENER, Craig s. A MENTE DO ESPÍRITO: A VISÃO DE PAULO SOBRE A MENTE TRANSFORMADA. São Paulo: Vida Nova, 2018. P. 249 e 250.
[7] CARSON, D.A. A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. P. 144
[8] Ibdem, p. 147
[9] Ibdem, p. 147
[10] BERGER, PETER L. THE SACRED CANOPY: ELEMENTS OF A SOCIOLOGICAL THEORY OF RELIGION. NOVA YORK: DOUBLEDAY, 1967.
[11] CARSON, D.A. A INTOLERÂNCIA DA TOLERÂNCIA. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. P. 11.
[12] Ibdem, p. 12
[13] PAGLIA, Camille. MULHERES LIVRES HOMENS LIVRES – Sexo, género e feminismo. Quetzal Editores. Portugal, 2018. P. 121
[14] JORDAN PETERSON: Pronomes de gênero e liberdade de expressão. Disponível em: < https://youtu.be/1NE4RkIhiTE > Acesso em 03/04/2019 às 19hr45min